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Insuficiência Cardíaca: como lidar com o emocional dos pacientes?

Atualizado: 15 de abr. de 2021

Vamos começar definindo Insuficiência Cardíaca. Ela é caracterizada pelo mau funcionamento do coração, limitando sua capacidade de bombear o sangue pelo corpo.

Isso pode ocorrer pela dilatação de suas cavidades, com consequente comprometimento de ejeção de sangue (insuficiência cardíaca sistólica).

Também ocorre devido à alteração no relaxamento do músculo cardíaco para acomodação do sangue em suas cavidades (insuficiência cardíaca diastólica), sendo possível a associação de ambas.


Apesar de ser uma condição geralmente crônica e progressiva, muito pode ser feito para controlar seus efeitos e impacto na vida de uma pessoa.


O trabalho oferecido deve ser multiprofissional, com médico, psicólogo, fisioterapeuta, educador físico e nutricionista. O paciente precisa reconhecer seus sintomas e se engajar no tratamento para melhorar sua qualidade de vida.


Continue a leitura e confira a história de uma paciente que acompanho como psicóloga desde 2012, que me procurou a pedido de um cardiologista.


Os sintomas de uma paciente com Insuficiência Cardíaca


Por questões éticas, darei um nome fictício à paciente para preservar sua identidade. Quando começou o tratamento tinha por volta de 50 anos, casada, mãe de dois filhos e com nível superior de escolaridade.


Em sua sessão inicial, Dulce contou-me que apresentou algum sintoma de Insuficiência Cardíaca desde a adolescência, sem que fizessem um diagnóstico correto.


Nessa época começou a ter tosse seca constantemente. Muitos exames foram feitos como radiografia pulmonar, exames em otorrinolaringologistas, testes de alergia, mas nada foi detectado.

A tosse tornou-se crônica e ela aprendeu a conviver com ela. Apresentava também já no início da idade adulta, pés inchados no final do dia, dores nas pernas e pré-eclâmpsia nas gravidezes que teve.


Muitas vezes a paciente tinha fadiga. Engordou muito, paulatinamente, descobrindo aos 43 anos que tinha diabetes tipo II, quando começou a tratar esta doença com regime alimentar e exercício físico.

Um pouco antes dessa época, sem saber precisar exatamente quantos anos tinha, Dulce começou a sentir uma dor no peito, com a sensação de má circulação. O sintoma durava alguns minutos, mas deixava-a muito aflita, pensando que poderia até morrer.

A dor era sempre precedida por um incômodo na região do peito, e quando ocorria, ajoelhava e rezava.


O problema foi diagnosticado como angina, causada pelo estreitamento das artérias que conduzem o sangue ao coração. Ocorria em dias variados, sem esforço anterior, mas muitas vezes em dias que havia passado por muita ansiedade e situações de estresse mental.


A rotina agitada da paciente cardíaca


Dulce trabalhava muito, viajava para cursos de pós-graduação, tinha muita responsabilidade com sua profissão e com sua família. Vivia esgotada emocionalmente e fisicamente.

Nesta época começou a apresentar gastrite, o que confundiu muitas vezes o diagnóstico do médico com relação a angina e insuficiência cardíaca. Ela também apresentava pressão alta desde as gravidezes, piorando nesses períodos e depois voltando ao normal.

A pressão também se alterou aos poucos, provocando sintomas como dor de cabeça, visão turva ou embaçada.

Quando a aferia, a partir dos sintomas, sempre estava alterada: 15 por 11, 16 por 12, 14 por 11. Veja que a diastólica sempre se mostrava mais alterada na proporção com a sistólica.


O cardiologista conhecia a história da família da paciente, e uma boa parte deles apresentavam doenças cardiovasculares, falecendo por causa disso.

Por isso, começou a receitar medicamentos para a pressão, que ajudou na dor das pernas e reduziu o inchaço nos pés, melhorando sua qualidade de vida.


O diagnóstico da Insuficiência Cardíaca


A descoberta da doença cardíaca de Dulce foi feita por meio de um ecocardiograma, que mostrava hipoperfusão no estresse e relaxamento, após os eletrocardiogramas não mostrarem alterações.


Isso chamou a atenção do cardiologista, que submeteu a paciente a um cateterismo. Por meio do exame foi detectada então a insuficiência cardíaca, pois seu ventrículo era mais mole que o esperado, lento e suas artérias eram muito fininhas.

Em situações de estresse, elas faziam vasoconstrição causando a dor de angina, que já irradiava pelo pescoço e braços.


Numa ocasião, Dulce apresentou tal dor por mais de 30 minutos indo parar na UTI com pressão 6 por 4, mas logo se recuperou, pois foi muito bem medicada.


Quando a paciente me relatou sua história de doenças, já tomava vários medicamentos, tanto para a insuficiência cardíaca quanto para diabetes.

Havia parado com exercícios físicos devido às artroses que surgiram na coluna e coxofemoral. Por causa disso, tinha medo de ter que colocar uma prótese.


Apesar dos inúmeros sintomas e das dificuldades sofridas, sempre foi uma paciente exemplar seguindo à risca as orientações médicas, tanto do cardiologista quanto do endocrinologista.


A Psicoterapia e a Insuficiência Cardíaca


Após me relatar toda sua trajetória, começamos a trabalhar durante as sessões seus medos, sua história familiar e suas repetições familiares como excesso de responsabilidade causada por medo derivado da sobrevivência.

Isso a levava a não ter limites com relação à quantidade de horas trabalhadas por dia, geralmente de 12 a 16 horas, se sobrecarregando de tarefas, sem saber dizer não aos seus pares.


A paciente era muito exigente consigo mesma, apresentando um superego rígido, culpando-se com facilidade e se responsabilizando por tudo o que acontecia.


Era viciada em adrenalina, como relatava, tendo ganhos psíquicos secundários com esse estilo de vida. Assim, sentia-se uma pessoa diferenciada e vencedora e não percebia que sua saúde física estava sendo minada.


As técnicas utilizadas com a paciente de Insuficiência Cardíaca


Na psicoterapia, Dulce pode trabalhar muitos de seus complexos que nos emperram em alguns aspectos. Aprendeu a fazer relaxamento e visualizações para se acalmar, pois são métodos comprovados cientificamente e que utilizo com meus pacientes.


O relaxamento e a meditação causam uma mudança nas ondas cerebrais. Como trabalhamos a respiração, promove calmaria e bem-estar, melhora ou diminui dores musculares e até a pressão arterial.


No estado de relaxamento, utilizamos técnicas de visualização, pois a conexão consciente/inconsciente fica permeável, facilitando o surgimento de lembranças, situações traumáticas que precisam ser desfeitas promovendo catarse.


Observe que trabalhamos com a paciente como um todo, promovendo autoconhecimento, ajudando-a a se conscientizar de sua doença e do seu desejo de viver.

Por meio da terapia, Dulce teve a oportunidade de procurar um objetivo. Isso ajuda a dar um sentido à vida, preservando o funcionamento do sistema imunológico, evitando doenças oportunistas e depressão.


Vale ressaltar que a paciente não tinha cuidador, pois apresentava independência e capacidade de resolver suas necessidades.


Espero que este texto ajude o leitor a refletir sobre a importância do tratamento multiprofissional, em especial, da psicoterapia nos pacientes com insuficiência cardíaca.


Tem alguma dúvida sobre o assunto? Envie sua pergunta para rebricpelavida@gmail.com


Dra. Denise Hernandes Tinoco

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